Futebol: Uma Comparação entre a MLS e o Futebol Brasileiro
Como sempre e não é diferente ano após ano, o futebol vem se expandindo em todo o mundo, e diferentes ligas têm buscado seu lugar ao sol, ao seu modo, nesse cenário. Duas delas quero destacar nesse texto: a Major League Soccer (MLS), nos Estados Unidos, e o futebol brasileiro.
Embora possuam características bem distintas, ambas têm ganhado relevância e despertado interesse tanto dos torcedores quanto dos investidores, em especial a MLS no atual momento.
Neste artigo, vou me atrever a fazer um comparativo entre os dois mercados, explorando suas estruturas, modelos de gestão, crescimento e impacto na cultura esportiva dentro da minha visão.
A Evolução da Major League Soccer (MLS)
A MLS tem experimentado um belo crescimento desde sua criação em 1996. Inicialmente, o campeonato contava com apenas 10 equipes/franquias, mas atualmente possui 29 times divididos entre as Conferências Leste e Oeste. Além disso, a liga se expandiu muito geograficamente, incluindo três equipes do Canadá e a participação de jogadores e torcedores mexicanos.
Essa expansão não é a toa e reflete a estratégia adotada pela MLS, que busca se tornar uma das principais ligas de futebol do mundo. Acredito que não venha a ser a principal um dia, mas figurar entre as principais do cenário global do futebol sim.
Dentro do meu entendimento, um dos principais impulsionadores desse crescimento é a visão de longo prazo da MLS e seus gestores/donos, que têm como objetivo se consolidar como uma liga de elite até a Copa do Mundo de 2026, que será realizada em conjunto pelos Estados Unidos, Canadá e México.
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A competição mundial se tornou um marco importante para o futebol norte-americano e tem impulsionado investimentos e melhorias em infraestrutura, governança e desenvolvimento de talentos.
Novas franquias sendo confirmadas, como anunciado nos últimos dias a entrada de San Diego por um tax fee de US$ 500 milhões e a bombástica contratação de Lionel Messi pelo Inter Miami, franquia que tem David Beckham como um de seus sócios.
A Governança da MLS e a Divisão de Receitas
Um aspecto interessante da MLS é sua estrutura de governança. Ao contrário de muitas ligas ao redor do mundo, onde os clubes são entidades independentes, os proprietários das equipes da MLS são sócios uns dos outros na liga. Cada time é uma franquia da MLS.
Isso significa que, apesar de serem rivais dentro de campo, eles se beneficiam mutuamente do sucesso de cada entidade, inclusive na divisão das receitas provenientes da bilheteria. Bem semelhante ao que acontece nas gigantescas ligas esportivas americanas: NFL, NBA, MLB e NHL.
No entanto, a divisão de receitas as vezes se torna um ponto de divergência entre os clubes da MLS. Enquanto alguns defendem a divisão mais igualitária, outros são adeptos da ideia de que os clubes mais populares e bem-sucedidos devem receber uma fatia maior do bolo. Essa questão está em constante discussão e pode impactar diretamente o futuro da liga.
Pessoalmente, gosto do modelo que eles operam, “copiando” o que já funciona na terra deles e não mexeria nisso. Mas, cada um tem seus motivos pra achar o que é melhor pra si.
O Modelo de Negócios da MLS e seus Desafios
A MLS adota algumas estratégias inovadoras para impulsionar a popularidade do futebol nos Estados Unidos. Uma delas é o limite salarial para os jogadores, que é uma característica comum em outros esportes norte-americanos. No entanto, a liga permite que até três jogadores, conhecidos como “Designated Players”, recebam salários acima desse limite. Essa regra foi criada em 2007, inspirada pela chegada de David Beckham ao LA Galaxy, e visa atrair jogadores de renome internacional.
No entanto, a MLS reconhece que é preciso encontrar um equilíbrio para evitar distorções salariais e garantir a competitividade da liga. Por isso, em 2015, foi introduzido outro mecanismo, o “Targeted Allocation Money” (TAM), que permite a contratação de jogadores com salários mais altos, desde que haja restrições sobre sua alocação. Essa medida busca garantir que os clubes tenham recursos suficientes para investir em talentos e manter a competitividade.
Regras criadas por americanos, mecanismos que eles criam e eles entendem.
Mas ainda assim, vejo que todas essas nuanças servem para que eles façam uma melhor gestão da Liga fazendo com que ela cresça de forma organizada e saudável. Coisa que não estamos muito acostumados.
Além dos desafios relacionados à governança e ao modelo de negócios, a MLS também enfrenta questões culturais e de identidade em um país onde o futebol não é o esporte mais popular. No entanto, a liga tem buscado soluções criativas para atrair torcedores e criar uma experiência única de consumo em eventos esportivos. Isso inclui a adoção de tecnologias, a criação de programas comunitários e o desenvolvimento de talentos locais.
O Futebol Brasileiro: Tradição e Desafios
Agora por aqui, o futebol brasileiro é conhecido mundialmente por sua rica história e pela paixão dos torcedores. No entanto, o esporte no Brasil enfrenta desafios em várias áreas há bastante tempo, como infraestrutura, gestão, dentre outros. Apesar de contar, supostamente, com um dos campeonatos nacionais mais competitivos do mundo, o futebol brasileiro segue buscando a famosa modernização e se adaptar às demandas do mercado global.
Uma das principais questões do futebol brasileiro há anos, é a falta de uma governança unificada. Diferentemente da MLS, onde os clubes são sócios uns dos outros, os clubes brasileiros operam de forma independente, na grande maioria das vezes com interesses conflitantes. Isso dificulta a implementação de políticas e estratégias em benefício do futebol como um todo. Um desperdício!
Outro desafio que vejo sendo enfrentado pelo futebol brasileiro é a gestão financeira dos clubes. Muitos times ainda têm e seguirão tendo dificuldades para equilibrar suas finanças e acabarão acumulando dívidas significativas. Como sempre.
Isso afeta não apenas a competitividade das equipes, mas também a qualidade do futebol apresentado e a capacidade de atrair investidores. Haja visto as discussões recentes entre Clubes, LIBRA e LFF.
O Potencial do Futebol Brasileiro e a Busca por Soluções
Apesar dos desafios, todos sabemos que o futebol brasileiro possui um enorme potencial, tanto em termos de talentos quanto de mercado. O Brasil é conhecido por produzir a maioria dos melhores jogadores do mundo e tem uma base sólida de torcedores muito apaixonados. No entanto, é necessário investir em gestão, melhor organização e desenvolvimento de talentos para aproveitar ao máximo esse potencial. Talvez começando pelos clubes.
Uma das soluções em discussão é a criação de uma liga única, como citei acima, para organizar as Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Essa proposta parece querer unificar a governança e fortalecer a competição, garantindo um ambiente mais estável e atrativo para os investidores. Mas quem realmente quer fazer? Quem quer mudar?
Além disso, seria possível implementar medidas de controle financeiro e distribuição de receitas mais equilibradas, visando a sustentabilidade financeira dos clubes.
Pra finalizar
A MLS e o futebol brasileiro são exemplos de como o futebol pode se desenvolver de formas diferentes, enfrentando desafios específicos em cada contexto. Enquanto a MLS busca consolidar sua posição como uma das principais ligas do mundo, o futebol brasileiro ainda busca modernizar sua estrutura e aproveitar ao máximo seu potencial.
Penso que ambas as ligas têm muito a aprender uma com a outra, seja em termos de gestão, desenvolvimento de talentos ou envolvimento dos torcedores. A troca de experiências e a busca por soluções inovadoras seriam fundamentais para o crescimento e a evolução do futebol, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
No final das contas, o futebol é um esporte universal que transcende fronteiras e culturas. Seja na MLS, no futebol brasileiro ou em qualquer outra liga ao redor do mundo, o que importa é a paixão dos torcedores e a emoção que o jogo proporciona. E se isso puder ser atrelado a um projeto de sucesso, bem gerido e quem todos os envolvidos saiam ganhando, melhor ainda!