MLS segue apoiando a Leagues Cup, o torneio entre a Liga MX e a liga de futebol dos Estados Unidos.
Em 2019, a MLS e a Liga MX uniram forças para criar a Leagues Cup. O formato da competição foi completamente reformulado no ano passado para incluir todos os times da MLS e da Liga MX, a principal divisão do futebol mexicano. Supostamente, as equipes competem pela dominância continental. As equipes da MLS pausam a temporada regular por um mês, e os times mexicanos se estabelecem nos Estados Unidos, inexplicavelmente cedendo a vantagem de jogar em casa em troca da oportunidade de se promoverem para os fãs americanos.
Nem todo mundo parece feliz com esse último detalhe. O técnico do Atlético San Luis, Domenec Torrent, que já treinou o Flamengo e passou um ano na MLS como treinador do NYCFC, criticou o torneio em uma recente coletiva de imprensa. Ele falou sobre sua indignação à falta de jogos no México, algo feito para aliviar o desgaste das viagens para as equipes mexicanas.
“A Leagues Cup, para mim, é uma pré-temporada,” disse Torrent aos repórteres. “É uma piada de competição para as equipes mexicanas, que viajamos a cada três dias, jogamos em Orlando, (93 graus) com muita umidade e Montreal, por exemplo, totalmente diferente. Acho que é uma piada, essa competição, isso é o que eu te digo.”
“Se estivermos aqui no próximo ano, vou usar isso como uma pré-temporada para os jogadores. Não faz sentido. Todo ano três ou quatro times americanos chegarão às semifinais, e quando os times americanos vierem jogar no México, com certeza será uma competição mais justa.”
As viagens, no entanto, não são o único problema. O torneio parece muito artificial e até sem graça. Alguns dizem que até é. No ano passado, foi extremamente utilizado como uma vitrine para Lionel Messi e o Inter Miami, e o argentino levou Miami a um final. Mas na edição 2024, Messi está se recuperando de uma lesão no tornozelo e perdeu todo o torneio, um golpe para a competição que continua tentando ganhar relevância em um verão repleto de eventos esportivos.
Na ausência dele, o torneio teve dificuldade em ganhar força. A MLS ainda piorou as coisas ao tirar muitas de suas equipes da U.S. Open Cup (Copa dos Estados Unidos), um torneio que antecede a Leagues Cup por mais de um século. Como resultado, vários grupos de torcedores em todo os EUA boicotaram ou protestaram, expressando sua convicção de que as equipes da MLS deveriam priorizar um torneio com uma história significativa em vez de um que surgiu do nada.
No papel, a Leagues Cup não teve dificuldade em atrair fãs, pelo menos presencialmente. Ao longo de 77 partidas, o torneio atraiu uma média de 17.131 torcedores, segundo a liga, um pequeno aumento em relação aos números de público do ano passado. Os números são um pouco mais preocupantes, no entanto, quando comparados com a média da liga — um pouco menos de 24.000 fãs por jogo na pausa para o All-Star Game da MLS, um recorde histórico. E, como sempre, é difícil saber quanto crédito podemos dar a qualquer número de público relatado pela liga. Não há como ignorar as grandes áreas de assentos vazios que muitos viram nas transmissões ao longo das fases de grupos e eliminatórias da Leagues Cup.
Também não saberemos os números exatos de visualização para as partidas na Apple TV, o parceiro oficial de mídia da liga. No entanto, temos alguma ideia pela audiência no FS1, que transmite os jogos a na TV a cabo. Os números parecem ser desanimadores, na melhor das hipóteses: em média, cerca de 30.000 espectadores acompanharam às partidas no canal, uma grande queda em relação à audiência do ano passado, que já não era grande coisa — cerca de 150.000 espectadores.
Nada disso é ajudado pelo estado atual do futebol mexicano, que está em um momento baixo. A Liga MX está sofrendo com a falta de estrelas, e a seleção masculina do México, assim como a dos EUA, acumulou uma série de desempenhos medianos em competições significativas. Até mesmo a rivalidade entre México e EUA — em outro momento uma das mais acirradas no futebol mundial — perdeu muito do seu brilho recentemente.
Torrent pode estar certo. O sucesso das equipes da MLS neste torneio nunca deve ser visto como uma certeza sobre a qualidade da MLS em comparação com a Liga MX.
Vale também notar que o Columbus venceu a Leagues Cup 2024 sem enfrentar um único time mexicano. O LAFC, vice-campeão do torneio, chegou à final depois de enfrentar apenas um time da Liga MX, o Club Tijuana, em sua primeira partida da fase de grupos.
A Leagues Cup tem seus defensores, até entre os treinadores das duas ligas, muitos dos quais elogiaram o torneio por proporcionar oportunidades de se testar contra novos adversários de maneira significativa. O torneio também permite que os treinadores rodem suas equipes e observem jogadores que podem não ver em jogos de liga, da mesma forma que a Open Cup costuma fazer, e se uma equipe for eliminada cedo, ganha várias semanas de folga para se preparar para o retorno à liga.
O torneio também foi significativo para uma equipe como o Colorado Rapids, que não ganha nada há anos e ficou na terceira colocação da competição. Para o Colorado, time de Rafael Navarro, ex-atacante do Palmeiras, a Leagues Cup se tornou um alento para os torcedores e terminou com uma vaga na CONCACAF Champions Cup, um dos prêmios muito reais do torneio.
A própria MLS baseou seu apoio à Leagues Cup amplamente em pesquisas de mercado. A liga disse que quer dobrar o tamanho de sua base de fãs até 2027 e, em alguns aspectos, os dirigentes da liga em seus mais altos níveis veem a Leagues Cup como essencial para esse objetivo.
Os defensores da Leagues Cup também apontaram para a dificuldade da Open Cup em atrair torcedores como um problema que foi exacerbado pela ausência de muitos clubes da MLS. Após o Atlanta United enfrentar o time da USL Indy Eleven nas quartas de final desse torneio, o comissário da MLS, Don Garber, defendeu sua decisão de reduzir a participação no torneio.
“Havia 1.400 pessoas nas arquibancadas em Atlanta para o jogo que eles jogaram”, disse ele. “É um grande lugar. Ter que abrir aquele estádio e termos que pagar para usar para um público de 1.400 pessoas, não faz sentido.”
Atlanta jogou aquela partida no Fifth Third Stadium em Kennesaw, um pequeno estádio universitário que tem capacidade máxima para cerca de 10.000 torcedores. A partida foi mal divulgada pela liga e pelo clube. Não exatamente uma receita ideal para uma lotação máxima.
A Open Cup provavelmente seguirá em frente, apoiada pela U.S. Soccer e por entusiastas do torneio que corretamente apontam para ele como a competição mais autêntica e histórica da América. A Leagues Cup, no entanto, parece estar em um ponto de inflexão. As coisas não ficarão mais fáceis para o torneio em 2025, quando a Copa do Mundo de Clubes chegar aos Estados Unidos, ou em 2026, quando toda a MLS será interrompida para a Copa do Mundo, que será disputada nos EUA, Canadá e México.
Na terça-feira, uma fonte com conhecimento dos planos da liga para o torneio informou que a competição “não vai a lugar nenhum”. A liga está considerando uma pausa para a Copa do Mundo de Clubes, talvez por 7 a 10 dias, pois espera que muitos estádios da MLS sejam usados para essa competição. A Copa do Mundo de 2026 é mais complicada, embora a liga já tenha discutido planos sobre como lidar com isso — possivelmente jogando a Leagues Cup na pré-temporada ou mais tarde na temporada. Parece que a MLS continua comprometida com a competição e provavelmente continuará se ajustando até encontrar a fórmula certa.
Talvez esse compromisso valha a pena, e a Leagues Cup se torne algo mais do que apenas marketing como alguns apontam. Enquanto isso, ela permanece uma venda difícil para os fãs de longa data da MLS.